segunda-feira, 13 de julho de 2015

O racismo e a hipocrisia

              É impressionante que no ano de 2015, o talento de uma negra pode incomodar tanta gente que tem a (in)decência de se expor sobre isso, a jornalista Maria Júlia Coutinho, meteorologista do Jornal Nacional sofreu vários ataques no Facebook sobre a sua raça. O preconceito vai da cor da pele até o formato do cabelo, basta fugir do "padrão" imposto pela mídia e pela sociedade, alguns até quenstionaram que isso era um golpe de marketing, que a Glória Maria nunca sofreu preconceito, o que foi desmentido pela jornalista que contou que sofre preconceito desde os anos 70, na sua primeira apresentação na globo. É inexplicável como esse racismo está vinculado a uma negra que é funcionária da maior e mais influente mídia do Brasil, a TV Globo.

Maria Júlia Coutinho, jornalista de meteorologia do Jornal Nacional, foi alvo de racistas nas redes sociais
              Inexplicável por que? Você deve estar se perguntando. Como disse no começo da matéria, um dos maiores responsáveis em impor e determinar dogmas, paradigmas e padrões de beleza na sociedade é a mídia, e a globo mesmo com seu império titânico não foi capaz de prever e evitar que sua jornalista sofresse preconceito nas redes sociais, tudo isso por que grande parte da responsabilidade é sua, em fantasiar ao longo dos anos ser uma empresa sem preconceitos e que abre espaço para os negros na sua emissora, mas em um país onde 52% da população é negra, o contraste com a quantidade de negros na globo é no mínimo duvidoso.

              E não para por aí, em 2006 um dos principais nome nas organizações globo, Ali Kamel, um dos cabeças da TV Globo lançou um livro chamado "Não somos racistas", trazendo dados e argumentos tentando nos ensinar que o racismo não existe no Brasil, como se o que fizesse o povo negro sofrer hoje fossem apenas pequenos vestígios deixados pela escravidão. O que soou meio incoerente pois menos de 10 anos depois os jornalistas e artistas da globo, entre eles William Bonner e Patrícia Poeta, colegas da Maria Júlio Coutinho no Jornal Nacional, estariam participando da campanha #SomosTodosMajú como uma luta contra o racismo. (irreal segundo Ali Kamel)

              É justo que a globo e seus funcionários tenham o direito de se expressar e falar sobre o racismo, mas essa não é uma causa da TV Globo, pois eles sabem que a única maneira da mídia ser preenchida por negros e negras de forma coerente a população é com a democratização da mídia, seguem alguns dados levantados pela revista Exame que refutam a opinião de Ali Kamel:


-Taxa de analfabetismo é duas vezes maior entre os negros

Em 2013, a população branca tinha 8,8 anos de estudo em média, já a negra, 7,2 anos. A diferença, no entanto, já foi maior. Em 1997, os brancos chegavam a estudar por 6,7 anos em média e os negros paravam nos 4,5 anos – isso seria o equivalente ao primeiro ciclo do ensino fundamental.


Mesmo assim, a taxa de analfabetismo entre os negros (11,5) é mais de duas vezes maior que entre os brancos (5,2).


- Renda dos negros é 40% menor que a dos brancos

Rendimentos médios reais recebidos no mês

Raça/CorRenda média
BrancosR$ 1.607,76
NegrosR$ 921,18
BrasilR$ 1.222,90


Joaquim Barbosa foi o primeiro presidente negro do STF

Antes de Joaquim Barbosa, o Supremo Tribunal Federal teve apenas outros dois ministros negros. O último deles, Hermenegildo de Barro, saiu do cargo em 1931. Ou seja, a corte ficou 72 anos sem nenhum representante afrodescendente. Em 2012, Barbosa se tornou o primeiro presidente negro da mais alta corte do país. 

                E como o preconceito vai além do espaço que a sociedade permite ao negro, mas também a qualidade e perspectiva de vida, temos também um dado importantíssimo sobre o assunto: segundo a Anistia Internacional em 2012, 56.000 pessoas foram assassinadas no Brasil. Destas, 30.000 são jovens entre 15 a 29 anos e, desse total, 77% são negros. A maioria dos homicídios é praticado por armas de fogo, e menos de 8% dos casos chegam a ser julgados.

                A realidade do Negro no Brasil não é fácil, batemos no peito que somos o país da diversidade, mas até onde essa diversidade é respeitada e até onde ela é tolerada? "Se não fôssemos racistas, Roberto Marinho não passaria pó de arroz para embranquecer a pele morena, conforme conta Pedro Bial na biografia que escreveu sobre o dono da Globo." 


Lucas D.
#SomosTodosÁfrica